domingo, 25 de julho de 2010

Verbo Bater


Eu Bateria.
E tu, Bateria?
Ah, ele Bateria.

Pra nós Bateria
Por vós, Bateria!
Pra eles... Bateria.



Tecnicamente falando, pra que todos possam entender como funciona uma bateria, vou explicar. Aliás, por motivos de falta de técnica (também sou leigo, podem acreditar), eu não vou explicar nada. “A Mangueira é tão grande, que nem cabe explicação...”. Então, eu só quero ouvir a batida única da bateria da minha Mangueira. Única porque é única mesmo, porque toda bateria, tem um lance de surdo (aquele tamborzão) de primeira, e de segunda, e de terceira. Tipo assim, você ouve um “prum...bum...escribum” não é??? Pois é, o “prum” é o surdo de primeira, o “bum” é o de segunda (que responde o anterior) e o “escribum” é o de terceira (que responde os outros dois). Entenderam?
É, também não entendi direito, mas saquei mais ou menos isso aí. Então, a bateria da Mangueira, não tem o surdo de segunda nem o de terceira, então fica só marcando no “prum”. Prum...prum...prum.... E nenhuma outra bateria faz isso, por isso ela é chamada de “Surdo Um”! Aí os caras inventaram uma parada muito legal, que é tipo o grito de guerra deles, que usa uma gíria bem carioca, o “mané” (que não é ofensa a ninguém), e aí gritam “É surdo um, mane! É surdo um"!
E o resto vocês já sabem. É só escutar, deixar o "prum" entrar pelo ouvido e explodir nos quadris e no pé.
Entendeu, “mané”?

"É SURDO UM, MANÉ! É SURDO UM”!


“Todo mundo te conhece ao longe, pelo som de teus tamborins, e o rufar do seu tambor...”
(Enéas Brites da Silva e Aloisio Augusto da Costa)

(Pesquisa de Texto com a colaboração de Thiago Pereira, cavaquinista, ritmista da Estação Primeira de Mangueira!)

quinta-feira, 22 de julho de 2010

A Mocinha da Caixinha


Eu ganhei uma caixinha,
Verde e rosa, toda prosa!
E ao abrir, uma musiquinha,
embalando tão garbosa
o bailado da Mocinha,
tão bonita, dadivosa,
A girar com uma bandeira
a girar, a vida inteira!


Foi tia Raimunda, a primeira porta-estandarte da Mangueira, quem lhe ensinou a sambar e a amar aquela bandeira. A menina que acompanhava os ensaios, em 1952, já “Mocinha”, defendia o pavilhão da verde e rosa, como 2ª porta-bandeira. E parecia inevitável ser a segunda, posto que a primeira, era Neide, uma lenda, que disputava com a Vilma, da Portela, outra fera, o posto de Rainha da Passarela. Mas quem aprendeu com a primeira de todas, acabaria por roubar a cena. No auge da disputa pelo Estandarte de Ouro ( o “Oscar” do carnaval carioca) no ano de 1980, de um lado a primeira da nossa, e do outro a primeira da deles, o prêmio foi parar justamente nas mãos da segunda.
Da nossa segunda!
E Mocinha passou a ser adulta, entrou no meio das gigantes, e no seu reinado, absoluta, levantou mais dois estandartes. Em 1988 veio o afastamento, não da bandeira, porque dela jamais se separaria. E em 2002, foi a Mocinha, a bailarina que surgia da caixinha de música, rodopiar por entre as estrelas.
76 anos de vida. 60 deles dedicados ao samba e à Mangueira!


Eu ganhei uma caixinha
Verde e rosa.
Todo prosa, abri!
Uma musiquinha
embalando o bailado
da Mocinha.
A girar com uma bandeira
pra vida inteira!


“Minha mãe costurava uma saia midi, sem armação nem bordado, e uma capinha que parecia de princesa” (contou à SUPER INTERESSANTE - revista - Rivailda do Nascimento Souza, a célebre Mocinha, porta-bandeira da Mangueira por 60 anos.)

“Uma vez, um tio meu teve a idéia de pregar umas lâmpadas com pilha na capa. Ficou engraçado.” (Mocinha, na mesma entrevista)

(fonte: site "Apito de Mestre")

Pesquisa de Texto: Dicionário Cravo Albim da MPB (site) e "Apito de Mestre" (site)

"Selo de Ouro"



Ainda sou blogueiro novato, então não sei lidar direito com a tal da blogosfera. Ganhei o selo “Blog de Ouro” de duas amigas Blogueiras, primeiro a Dilma do “Alguém me Ouviu” e depois da Silmara, do “De turista a viajante” . São blogs sensacionais, e eu realmente recomendo ambos. Uma das regras do selo, é que tem que linkar a imagem ao blog que me indicou, e aí, olha que coisa, duas amigas me indicaram ao mesmo selo...hehehehehhee.. Então vou linkar abaixo do selo as duas, ok???
Obrigado pelo selo! E parabéns pelo blog de vocês!

Regras:
-Colocar a imagem dos selos no blog;
-Linkar no blog que te indicou ao selo;
-Indique outros blog para ganharem o selo;

Agora, eu tenho que indicar quem eu vou presentear com o “Selo de Ouro”.

Indico:

“Mulherices”

http://mulherices2009.blogspot.com/

“Francoerebel”

http://francorebel.blogspot.com/

“Gerando dias melhores”

http://gerandodiasmelhores.blogspot.com/

“In Abstracto”

http://emabstrato.blogspot.com/

domingo, 18 de julho de 2010

"O Filho Fiel, Sempre Mangueira!"



Para a maioria das pessoas, o carnaval ainda está longe. Mas para as escolas de samba, o carnaval já começou faz tempo, aliás, para elas, o carnaval nunca termina.
Em 2011, a Estação Primeira de Mangueira vai contar na avenida, um de seus bambas, Nelson Cavaquinho, que se vivo estivesse, completaria 100 anos de vida. Dentre suas composições, a mais célebre, com certeza, é "Folhas Secas" (que ilustra o nome desse blog), um verdadeiro hino de amor à Mangueira. Aliás, o amor de Nelson Cavaquinho pela Mangueira é a tônica do enredo, daí o título, "O Filho Fiel, Sempre Mangueira". Nelson viveu a Mangueira em sua plenitude, e como poucos, cantou esse lugar.
Apesar de ainda estarmos no mês de julho, as eliminatórias dos sambas para o carnaval 2011 já começaram, e nos sites especializados, já estão disponíveis vários áudios de sambas -concorrentes!

Para a Mangueira, o carnaval 2011 já começou, e eu, como um "filho fiel" que sou, não poderia deixar de prestar minha homenagem a esse bamba, que eu tenho o privilégio de dizer, que é a mais pura expressão do talento mangueirense!

Ao Mestre Nelson Cavaquinho, os versos da minha homenagem (não é nenhuma letra de samba concorrente, mas, como eu queria ter esse talento...)


A noite vem surgindo em poesia,
bandeiras tremulando de alegria
Em verde e rosa anunciam, hoje é festa, é carnaval!
O samba vem pedir passagem, trazer flores ,
homenagem ao artista imortal!
Chegando em sua montaria, armado de nostalgia,
Encantou a boêmia com o choro do violão!
Que felicidade, “Não consigo te esquecer”!
E “com a alma toda tatuada” de teus versos,
Em canção agora peço, “não me queiras mal, hoje é carnaval”


Subindo os “degraus da vida”
Chegou ao alto, “Rei vadio” na avenida,
No “Zicartola”, o teu samba faz a festa
És canção que manifesta, um amor que não termina.


Vem meu trovador...
Traz teu alento a quem tanto já chorou.
Quem nunca sonhou,
“que o amor será eterno novamente”?
Na “Opinião” de quem te aplaude, és imortal!
As “folhas secas” espalhadas no caminho,
Vieram pra te ver passar,
Salve o poeta, nosso Nelson Cavaquinho.

Um canto ecoou no céu , canta Mangueira!
Vem, Filho Fiel!
Quem chama é a Estação Primeira!


Se você é amante, admirador, ou apenas um curioso, vale a pena dar uma conferida no site da Mangueira. Lá tem muita informação sobre o carnaval, e sobre esse celeiro de bambas chamado Estação Primeira de Mangueira!


http://www.mangueira.com.br/

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Beth: o Carvalho do Samba

“Pois é, essa árvore é usada pelos botânicos e geólogos como um medidor de catástrofes naturais do ambiente.
Quanto mais temporais e tempestades o carvalho
enfrenta, mais forte ele fica! Suas raízes naturalmente se aprofundam mais na terra e seu caule se torna mais robusto, sendo impossível uma tempestade arrancá-lo do solo ou derrubá-lo!
Cada tempestade para um carvalho é mais um desafio a ser vencido e não uma ameaça! - Numa grande tempestade, muitas árvores são arrancadas, mas o carvalho permanece firme!”
(extraído do texto de autoria de Dario Oliveira, “Todos deveríamos ser como árvores de carvalho”, do site www.arvoredecarvalho.com.br)



Não, não nasceu no morro!
Nasceu nos seus arredores, ali na Gamboa, que hoje abriga a Cidade do Samba (talvez ela já soubesse, e apenas quis enganar a gente).
Não, não levou uma vida desregrada, nem teve que subir e descer ladeira!
Seu quintal foi o mesmo da bossa nova, a Zona Sul carioca, e ainda menina, sempre sapeca, deu uma volta no “Trem da Alegria”, de onde ouviu-se seus primeiros acordes, nas ondas do rádio. Trem... Rádio... Talento... Essa mistura esquisita acaba quase sempre dando em samba, e por mais que não quisesse, pois cismou que era bailarina, as notas do violão pareciam embriagar-lhe as entranhas.
Ela foi valente, bem que tentou! Lutou com todas as suas forças contra seu destino.
Menina rebelde!
Menina Beth! Sempre foi do Carvalho!
Mas o banquinho e o violão de João Gilberto, o “desafinado” acabou sendo a redenção!
É, a rebeldia era tamanha, que tinha que ser pelo desafino, o convencimento de que a música era o caminho a seguir.
E nas “andanças” dessa vida, não teve jeito, teve que subir “1800 colinas”, e chegou no topo, e foi quando entregou-se, corpo, alma, coração e canção, ao samba. E foi uma entrega tão grande e verdadeira, que tornou-se dele a “enamorada”, isso dito por gente bamba, e de roda em roda, e de violão em violão, esbarrou com Nelson Cavaquinho, Zé Ketti, e tantos outros, e também com Cartola, de quem ganhou de presente rosas. Mas essas rosas que ela ganhou, “não falam, simplesmente exalam” o perfume forte que só nos jardins de Mangueira florescem.
E quando a “enamorada do samba” recebe rosas, nasce um amor que não tem fim.
Um amor de novela, com todos os ingredientes de um bom folhetim!
Quando foi ver, lá estava, sentada num botequim, e foram tantos os “botequins da vida”, que sem se dar conta, estava já “alta”. E a cabeça girou, “o mundo é um moinho”, e de tanto girar a cabeça e levar requebro aos quadris, girou por todo o mundo, fazendo o mundo inteiro girar.
E o tempo foi passando, a fama aumentando, e de “enamorada”, passou a se chamar “madrinha”.
E sob suas bênçãos, o “pagodinho” do Zeca, e de tantos outros, dos mais antigos aos mais novos, alcançou o estado de graça.
Foi assim, cantando o samba de raiz, e rodando nas rodas de samba, com os pés calçados de chão, que sempre viveu, mostrando que no meio da gente simples, que nasce ou vive no morro, existe o mais sagrado tesouro.
Mas o céu, quando se é estrela, nunca será o limite, e como quem nasce pra brilhar, brilha aqui, ou em qualquer lugar, seu brilho chegou ao espaço, onde nenhum ser da Terra ousou um dia tocar!
Que “coisinha tão bonitinha do Pai” essa menina. Fez o samba ultrapassar as fronteiras do universo, e há quem diga, que os marcianos (que eu tenho certeza que são verdes, cheios de bolinhas rosas, eu mesmo já vi vários!) nunca mais foram os mesmos depois que a semente do samba brotou pelas bandas de lá!
À bela árvore que nasceu, deram o nome de Carvalho!


(Fontes de Pesquisa: Beth Carvalho – site oficial e Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira – site oficial)



“O samba [“Só Quero Ver”] emplacou pra valer e ao vê-lo cantado nas rodas-de-samba de Salgueiro e Mangueira – Beth é mangueirense doente – sentiu ela mais do que nunca ser aquele o seu verdadeiro gênero: o samba tal como é praticado nas Escolas, sem apelações nem muita frescura nos arranjos. Sem subterfúgios. Aquele que entra pelos ouvidos e sai pelos pés, com trânsito em alta-voltagem nas cadeiras, tal uma corrente elétrica que vai aumentando de intensidade até que se descarrega.”
(Vinícius de Moraes, no encarte do LP “Mundo Melhor”, de 1976)

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Nelson Sargento - O Pintor de Poesias


Tudo foi por obra do acaso.
Vivia no Salgueiro, mas ainda pequeno, o trem do destino levou seu pai,
e nessa jornada, foi ele, ainda pequeno, desembarcar em Mangueira.
E como se já não bastasse,
foi morar na casa do português, um certo Alfredo,
que sem segredo, ensinou-lhe a pintar.
Começou por paredes, e quando foi ver,
já estava colorindo com arte, um bando de telas,
e essa aquarela, olha que ironia,
teve como testemunha um tal de Sérgio Cabral,
e como primeiro freguês, um certo Paulinho da Viola.
Mas o tal do português, de quem esperava-se um fado,
olha que engraçado,
gostava era de samba, e aí, nem preciso dizer,
bastou conhecer um certo Cartola e o Carlos Cachaça,
a Mangueira encheu-se de graça.
E assim meio já não por acaso, o artista das cores,
pintou aquela que talvez seja
sua mais linda tela: “Primavera”.
A estação das flores, com suas belas matizes,
ficou conhecida como “As quatro estações do ano”,
e há quem afirme, ser a mais bela,
de toda sua criação.
E não por acaso o Nelson, de apelido Sargento,
tem na arte do samba (na verdade, na arte e no samba)
sua mais alta patente.
As cores de seus versos, e sua paleta de cores,
que parecem não ter fim, ganhou o morro.
E pra nossa felicidade, ganhou a cidade.
E enfatizando o samba de raiz, ganhou o País.
E depois do golpe profundo,
do governo que saiu pelos fundos,
ganhou finalmente o mundo.
Japonês ficou de olhos arregalados quando ouviram as pinturas ,
não as que enfeitam paredes, as que colorem os ouvidos!
Mas um artista que se preze,
e talento que não termina,
jamais desatina,
e se já não fosse bastante pintar o sete,
e pintar de poesia o samba,
resolveu pintar como escritor,
e eternizar sua talentosa memória, em memórias eternas!
E o samba, que “agoniza mas não morre”,
nem tinha como morrer, porque não por acaso,
todo esse talento foi parar aonde o samba, como forma de arte,
tem cores fortes, e ares de pintura.
Nelson...
Sargento, artista, sambista,
pintor, compositor, cantor, escritor, ator,
é da vida, um doutor!
E tenho lá minhas dúvidas se foi o acaso,
ou predestinação, ele ir parar
justamente na Primeira Estação.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

A Alemanha de Hitler e a Mangueira de Cartola


A Alemanha estava em plena campanha nazista.
Uma das bases desse cruel sistema , era a “superioridade” da raça ariana, e a história todos conhecem; a manutenção da “superioridade” ceifou a vida de vários judeus, que segundo eles, eram “tão inferiores quanto a raça negra”.
Mas para a Mangueira e para Cartola, o mundo parecia não girar na ordem natural das coisas, e a mesma Alemanha que queria sobrepor-se às “raças inferiores”, admirou, por longos 60 minutos, a obra de Cartola e da Estação Primeira de Mangueira, aquela comunidade pobre, preta e tão superior no talento, e na expressão mais forte da cultura negra, o samba.
Foi em 29 de janeiro de 1936. Por iniciativa da Diretora de Publicidade do Departamento de Propaganda e Cultura da Agência Nacional, a “Hora do Brasil” chegava, através das ondas do rádio, até a Alemanha, num programa com 1 hora de duração totalmente dedicado à Estação Primeira de Mangueira. Não tratava-se apenas da veiculação dos sambas de sucesso de Cartola e suas parcerias. Tratava-se de uma homenagem ao samba e à Mangueira, à cultura que brotava daquele lugar, e que teve sua projeção através de suas obras, e de seus parceiros, como Arlindo H. dos Santos, Maciste Carioca e Gradim. Teve ainda a veiculação de crônicas referentes ao carnaval e claro, muita música, nas vozes da nossa Estação Primeira.
E em alto e bom som alemão, seguiram-se informações sobre as canções, sobre o nosso Cartola, e sobre o samba.
Durante 1 hora, a raça ariana, e sua “superioridade” admiravam o talento que vinha do Morro da Mangueira, do samba do Cartola, e da nossa Estação Primeira.
A Alemanha de Hitler, o grande ditador, curvou-se ao talento que vinha da Mangueira. As cores “superiores” eram verde e rosa.

(Pesquisa de texto: “Cartola – Os tempos idos” – Marília T. Barboza da Silva e Arthur L. de Oliveira Filho – Edições FUNARTE – Ministério da Cultura – 2ª edição)

“O morro não tem vez,
E o que ele fez,
Já foi demais...
Mas olhem bem vocês,
Quando derem vez ao morro,
Toda a cidade vai cantar!”
(Tom Jobim/Vinícius de Moraes)


“Eu sou o samba
A voz do morro,
Sou eu mesmo sim senhor.
Quero mostrar ao mundo
Que tenho valor
Eu sou o rei do terreiro
Eu sou o samba
Sou natural daqui do Rio de Janeiro
Sou eu quem leva a alegria
Para milhões
De corações brasileiros”
(Zé Kéti)