sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

"Forévis"


Nasceu preto, suburbano e sambista.
Dos tempos de internato, o diploma de ajustador mecânico
de pouco lhe serviria: a veia era mesmo de artista.
Era mesmo um sujeito original.
Original do Samba, original no jeito, ao afirmar que pintar a cara,
só podia ser coisa de homem cheio de trejeitos.
Mas não teve jeito! O talento pulsava em seu peito, e sem a menor encenação,
entrava em cena o mais incorreto trapalhão!
De fala errada, e de piada politicamente incorreta,
Fazia graça com a mesma desenvoltura com que fazia samba
e não era pra menos: era da vida um bamba!
E fosse na TV, nos palcos ou na Sapucaí,
Lá estava Antônio Carlos, sempre nos fazendo sorrir.
“Azulão”, “Cromado”, “Grande Pássaro”, “Maisena”,
Chegado num “mé” e falando errado
O criolo bom pra “cacildis”
Tinha na ala das baianas da Mangueira
Uma de suas maiores paixões,
E aquele sorriso maroto, e aquele jeito Mangueirense de ser
Ficará na memória de todo o Brasil.
“FORÉVIS”!


Antônio Carlos Bernardes Gomes, nasceu em 07 de janeiro de 1941 no Rio de Janeiro (algumas biografias aponta o bairro de Lins de Vasconcelos, outras, o Morro da Mangueira). Filho de família humilde, estudou num internato, onde formou-se como ajustador mecânico. Fez ainda carreira militar, mas sua veia artística falava mais alto, pois desde essa época, já participava da Caravana Cultural de Música Brasileira de Carlos Machado. Antes de despontar no grupo “Originais do samba”, Mussum (apelido que teria sido dado por Grande Otelo), já tinha feito participações em TV. Mas foi em 1969, quando resolveu entrar para a trupe dos “Trapalhões” que ganhou maior visibilidade. Aos poucos, o sucesso o impediu de conciliar as duas carreiras, e resolveu seguir como comediante, para tornar-se um imortal do grupo mais marcante da comédia brasileira. Para muitos, Mussum era o mais engraçado dos Trapalhões, e fazia piada de sua própria condição de negro, e claro, seus famosos trocadilhos com a cachaça, ou “mé”. E não tem como citar esse grande artista, sem fazer alusão a sua maior paixão , a Estação Primeira de Mangueira. Mussum foi durante anos Diretor da Ala das Baianas da escola, amor que o acompanhou até as últimas batidas de seu coração verde e rosa, em 29 de julho de 1994.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

De olhos arregalados


Para a grande maioria do público estrangeiro, o carnaval carioca é sinônimo de samba e... mulher pelada. Essa realidade é indiscutível, especialmente porque o requebrado dos quadris de nossas mulatas é um dos maiores cartões de visitas não só do carnaval, como do próprio Rio de Janeiro.
Quando o consultor japonês Keisuke Sakuma desembarcou na cidade, tinha essa idéia na cabeça.
Mas, no meio do caminho existia uma Mangueira. Existia uma Mangueira no meio do caminho...
Como todo estrangeiro, tratou logo de ir conhecer a famosa Verde e Rosa, e em visita ao Palácio do Samba, seus olhos se arregalaram e não foram apenas para admirar as curvas das mulatas. Sakuma pôde ver de perto, que por trás de toda a magia do carnaval Mangueirense, existe uma comunidade que trabalha muito para nos oferecer o espetáculo da avenida.


A partir dessa constatação, passou então a conhecer mais profundamente aquela verdadeira fábrica de sonhos e esperança que atende pelo nome de Estação Primeira de Mangueira, e conheceu o universo do morro, o projeto social Vila Olímpica da Mangueira, e conforme ia se aprofundando, foi tentando entender porque o carnaval existia, sem conformar-se com as explicações de estudiosos e pesquisadores do assunto. Passou então a freqüentar ensaios, conversar (???) com pessoas da comunidade, acompanhar o dia a dia daquela gente, pra entender o que movia esse amor, essa estreita ligação entre o carnaval e a Mangueira , entre a Mangueira e o samba, e até mesmo entre a cultura brasileira e esse ritmo envolvente e essa festa ímpar.
Sakuma desfilou no carnaval de 1998, quando a Mangueira foi campeã homenageando Chico Buarque, e seu trabalho de pesquisa foi tão profundo, que participou até da apuração, ao vivo, na Praça da Apoteose.
Desse episódio, nasceram duas coisas: um amor incondicional daquele japonês à Mangueira, e um livro, “A Magia do Samba”, todo escrito em japonês, onde nosso “japa verde e rosa” demonstra um profundo estudo do carnaval carioca, e declara seu amor por aquela que um dia o recebeu tão bem e coloriu seu coração.
Hoje, ele ostenta o título de “Embaixador da Mangueira” no Japão, onde dá palestras, contando com profundo amor e dedicação, nossa cultura, e claro, sua história de amor com a Estação Primeira do Samba, a Mangueira!

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Alma Sambista

Alma sambista,
Revela ao mundo
nas cores da passarela
que por trás daquele gingado
daquele sorriso, daquela batida
tem vida perdida, tem vida vendida
tem vida que grita: favela.

Sambista na alma
Rezando um rosário
Pedindo aos santos
O fim do calvário
O fim do cortejo
Um fim às almas santas
Ao menos o fim de seus prantos.

Alma de sambista
Não chora de dor
Lamenta ao som da cuíca
Reclama o tocar do pandeiro
Suplica na batida de um tamborim
Que mesmo que tudo lhe falte
Jamais seu orgulho chegue ao fim!

Homenagem ao bravo povo das comunidades da Grande Rio, Portela e União da Ilha, escolas que foram atingidas pelo incêndio na Cidade do Samba.
A fumaça que se viu era apenas de alegorias e fantasias.

O samba é uma chama que jamais se apagará!