terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Versos Infantis




Na infância conheci o que é magia.
Sentado na arquibancada, olhos coloridos ,
A sorrir com a chegada da caravana de artistas.
E o Mestre, sem cerimônia, anunciava em poesia:
É chegada a hora da fantasia.
Meu corpo já não agüentava, tamanha euforia,
E balançava... Ia e vinha...
E passaram os domadores, controlando tantas feras,
E vieram os trapezistas, fazendo suas estripulias,
E tinham os equilibristas, que com os pés, enchiam as vistas.
E na corte dos palhaços engraçados,
vinha um arrancando Gargalhada,
E também passaram as belas e formosas bailarinas.
E rufaram os tambores, anunciando a maravilha
Era a vez do grande mágico, pra encerrar com maestria
Uma noite que pra mim, jamais acabaria!
Surgiu entre fumaça, muita luz lhe refletia,
E não tinha um baralho, e nem tinha uma varinha.
Sua mágica era ilógica, tinha um ar de poesia.
E assim, Cartola em punho, começava a maravilha,
E dali saíram rosas, e depois vi pedrarias...
Eram verdes, eu me lembro, esmeraldas, que corriam...
Se espalhavam pelo chão, dando o toque de riqueza
Da Cartola não parava de sair a realeza...
Era um mundo que ali cabia
Saíam reis e suas rainhas, e também saiu um manto
E meus olhos, que encanto, reluziam em reverência
Ao ver que dentro daquela Cartola tinha a essência
Da emoção que duraria por uma vida inteira.
E se não bastasse tudo isso,
Era chegado o grande momento
E num sopro eis que surge um firmamento
Carregado de estrelas que molharam minha face
De profunda felicidade...
E cada gota que rolava se juntava a tantas outras,
E quando vi já era tarde, pois a seiva que me invadia
Já molhava outras faces e muitas gotas caíram ao chão,
E molharam as folhas secas, que irrigadas, igual sementes,
Germinaram um tronco forte,
Que alguém chamou Mangueira...
E seus frutos não se acabam, são pra uma vida inteira!




terça-feira, 30 de novembro de 2010

Vou te CANTAR uma história!


Lá pelos idos da década de 30, começavam os primeiros concursos de escolas de samba e em praticamente nada eles se comparam ao que hoje vimos nos desfiles.
Nos primeiros concursos, as escolas desfilavam com mais de um samba, e a campeã do carnaval em geral era escolhida por conta da qualidade musical, e claro, do desempenho de seus componentes. Naquele início, os sambas eram livres, não se tinha uma temática pré-estabelecida, e foi nesse tempo que surgiram as primeiras pérolas de Cartola, Carlos Cachaça, Zé com Fome, e outros grandes nomes da Mangueira e da música brasileira.
Com o passar dos anos, e o desfile das escolas de samba foi ganhando proporções cada vez maiores, sambas-enredo começaram cada vez mais caiam no gosto popular , e em alguns momentos, chegavam a dividir espaço nas rádios e na mídia, com outras músicas “comerciais” por assim dizer. O primeiro samba-enredo a ganhar contornos e projeção nacional, foi o classico mangueirense para o desfile de 1967, “O mundo encantado de Monteiro Lobato”, que ganhou o país pela voz de Beth Carvalho. E na história mais recente, temos passagens como o hit da década de 80 “Tem xinxim e acarajé, tamborim e samba no pé!” (1986), “Me leva que eu vou, sonho meu, atrás da verde e rosa, só não vai quem já morreu!”(1994) e “Vou invadir o Nordeste, seu cabra da peste, sou Mangueira...” (2002) que ultrapassaram as fronteiras do mundo do carnaval e até hoje são cantados mesmo por quem só tem contato com a folia momesca uma vez por ano.

Em dois momentos marcantes da história brasileira, em que os desfiles foram temáticos, a Mangueira não se fez de rogada, e enquanto a maioria enaltecia as datas festivas, a escola de samba do morro lançava indagações, e mostrava que nem tudo eram flores em meio às festividades propostas:



No carnaval de 1988, quando estava sendo comemorado o centenário da abolição da escravatura, a Mangueira fez um desfile histórico, com um samba considerado por muitos como um dos melhores de todos os tempos, e ao invés de exaltar a libertação dos escravos, lançava um grande questionamento, fazendo a sociedade pensar profundamente na questão do racismo, que na verdade tomou ares de preconceito muito mais social.


“Cem anos de liberdade, realidade ou ilusão?”

“Pergunte ao criador
Quem pintou esta aquarela
Livre do açoite da senzala
Preso na miséria da favela”


E no ano de 2000, quando o Brasil comemorava 500 anos de descobrimento, a Mangueira do alto de sua importância histórica e cultural, não se resumiu a enaltecer as maravilhas do País, pelo contrário, lançava mais uma forte crítica social, com seu enredo e samba que mais uma vez, mostrava uma realidade que muitas vezes todos nós preferimos fingir que não existe:

“Dom obá II – Reis dos esfarrapados, príncipe do povo”
“500 anos Brasil
E a raça negra não viu
O clarão da igualdade
Fazer o negro respirar felicidade”


Portanto, quando ouvir um samba-enredo, fique atento, porque muito mais do que servir para ilustrar uma história que a escola mostrará na avenida ao longo de seu desfile, ele poderá trazer mensagens de esperança, de protesto, contar fatos históricos, mostrar detalhes da vida de pessoas homenageadas que poucas pessoas conhecem. Um samba-enredo serve para fazer a mulata requebrar, a baiana rodopiar, a arquibancada inteira cantar e mais: serve para mostrar que escola de samba tem compromisso sócio-cultural.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Agradecimentos

Um sorriso do tamanho da Mangueira! É assim que eu fico quando sou presenteado, e dessa vez, quem me deu os “mimos” foram os seguintes blogs:

“Palavras do Poeta”
http://palavrasdopoetamf.blogspot.com/

Se você acha que a poesia é apenas uma questão de palavras escritas, então se prepare, porque o conceito ficou muito mais amplo nesse blog, que tem em seu objetivo a mais perfeita expressão de amor, admiração e homenagem a uma pessoa! Acessem e olhem a descrição da Jacqueline, a proprietária, e entenderão do que estou falando!

“Desisto, tentei entender!”
http://umdiaentenderei.blogspot.com/

Variedades! Seria assim que seria classificado esse blog, mas ele é uma mistura deliciosa de pensamentos, de crônicas, de verdades, de coisas que a gente para, pensa, e muda até conceitos! Assuntos diversos, com a marca de alguém que tem o dom de nos fazer refletir muito!

“Alguém me ouviu?”
http://alguemmeouviu.blogspot.com/

Sabe aquela avalanche de sentimentos, aquelas coisas que a gente sente e não consegue dizer ao certo? Pois é, o blog da minha amiga blogueira Dielma, que aliás está me deixando muito mal acostumado, é aonde você encontra as palavras que a gente na maioria das vezes não consegue externar para falar de sentimentos que explodem dentro de nós. Se alguém quiser lavar a alma, o lugar é esse!



E ofereço um presente dos que recebi, para cada um dos blogs a seguir:


“NeoWellBlog/Blog Oriental”
http://neowellblog.wordpress.com/




“Infinito Particular”
http://infinito-particularr.blogspot.com



“Blog da Izabelle Valladares”
http://blogdaizabellevalladares.blogspot.com/




"Para que nunca me esqueça”
http://paraquenuncameesqueca.blogspot.com/





“Trapo Escrito”
http://trapoescrito.blogspot.com/


"Bambas em foco”
http://bambasemfoco.blogspot.com/



quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Domingo de Carnaval





Domingo de carnaval
Não me venham com confetes nem serpentinas.
Faz parte do meu ritual
Dissipar-me, corpo e alma; retina!
Eu quero ficar no meu canto,
Num canto sozinho, cantando baixinho
Que é para tudo que está em volta,
Me ouvir!
Quero vestir-me com traje de gala,
Sem me preocupar em usar fantasia.
Quero pintar os meus lábios
Das cores da minha alegria.
Nos pés, dispenso sapato!
Calço-me apenas do fino trato,
De um samba que toca
Num salto partido: bem alto
E caminhar no ritmo rápido
Mas não em bloco,
Meio que só, mesmo que só multidão.
Chegar de mansinho
Com pressa de encontrar um lugar
E esperar que adormeça o domingo
E que se faça a segunda,
E depois a terceira, e quarta,
Para finalmente, depois da quinta
Chegar a vez do esplendor da sexta!




A ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA será a sexta escola a desfilar no domingo de carnaval em 2011. Encerrará a primeira noite de desfiles, cantando o enredo “O Filho Fiel, Sempre Mangueira”, homenagem ao centenário do grande mestre da Música NELSON CAVAQUINHO, que empresta versos da canção “Folhas Secas” para ilustrar o nome desse blog.


“Quando eu piso em folhas secas,
Caídas de uma Mangueira,
Penso na minha escola,
E nos poetas
Da minha ESTAÇÃO PRIMEIRA”



Acesse o site da ESCOLA DE SAMBA MAIS QUERIDA DO PLANETA!



www.mangueira.com.br/mangueira




Conheça também o site da NAÇÃO VERDE E ROSA, a 1ª Torcida Organizada da Mangueira!
http://www.nacaoverdeerosa.com.br/

domingo, 31 de outubro de 2010

Deixa eu te CANTAR uma história...



O que todos conhecem como “samba-enredo” é uma evolução do samba, um sub-gênero, que nada mais é do que um samba feito em cima de um enredo (tema). As escolas de samba escolhem o tema que apresentarão no carnaval, e seus compositores compõem sambas contando aquela história. Simples na concepção, mas todo o processo que envolve uma escolha de samba-enredo é bem complexa, passa por uma série de eliminatórias, e culmina finalmente com a escolha do samba que mais tarde, será conhecido da grande massa que acompanha os desfiles.
E como tudo invarialmente tem seu início, com os sambas-enredo não seria diferente e, claro, tem que passar pela Mangueira, a ESTAÇÃO PRIMEIRA DO SAMBA.
Sempre haverá quem discorde, evidente, até porque muito do que se sabe dos carnavais antigos, é baseado em histórias que foram passando boca a boca, e nem sempre pesquisadores e historiadores do tema são unânimes ao afirmar coisas sobre o assunto.

O fato é que o samba “Homenagem”, que data de 1933, embalou o desfile da Estação Primeira de Mangueira, cujo enredo era “Uma 2ª feira do Senhor do Bonfim” e tomando por parâmetro a idéia de que um samba-enredo tem como principal característica abordar um determinado tema, esse samba foi o primeiro, ou um dos primeiros de que se tenha registro, a abordar algum tema específico. Claro que um samba-enredo não tem como base apenas o fato de contar uma história, ele tem também características melódicas próprias, que o diferenciam de outros sambas.
Ao falar de samba-enredo, é impossível não citar, por exemplo, os famosos “É hoje” (regravado por Caetano Veloso), “O amanhã” (imortalizado na voz de Simone), “Yayá do Cais Dourado” (Martinho da Vila), os dois primeiros da União da Ilha e o último da Vila Isabel. Nasceram sambas-enredo, e tornaram-se classicos da Música Popular Brasileira.

O que pouca gente sabe é que alem desses, outros sambas-enredo, que habitaram a pré-história do gênero, vieram a tornar-se grandes canções da MPB.
Um deles em especial, leva a chancela verde e rosa, e fez um estrondoso sucesso na década de 70, nas vozes de Paulinho da Viola e Cartola! Se eu disser “O destino não quiz”, quase ninguém saberá de que música estou falando. Se eu mencionar “Não quero mais”, alguns mais saudosistas saberão que estou me referindo a uma canção que fez sucesso no final da década de 40, na voz de Aracy de Almeida. Mas se eu mencionar “Não quero mais amar a ninguém”, aí sim, muitos lembrarão desse belo samba! O que poucos sabem, é que todos os títulos citados, referem-se à mesma canção, de autoria de Cartola e Carlos Cachaça, adaptado posteriormente por Zé com Fome, e que embalou o desfile vice-campeão da verde e rosa no longínquo carnaval de 1936! Um samba que atravessou o tempo, e quase 40 anos depois, ressurgiu para ser imortalizado pela dupla que encantou o mundo da música na década de 70!




”Não quero mais amar a ninguém
Não fui feliz
O destino não quis
O meu primeiro amor
Morreu como a flor
Ainda em botão
Deixando os espinhos
Que dilaceram meu coração
Semente de amor
Sei que sou desde nascença
Mas sem ter vida e fulgor
Eis a minha sentença
Tentei pela primeira vez
Esse sonho vibrar
Foi beijo que nasceu e morreu
Sem se chegar a dar
Às vezes dou gargalhada
Ao lembrar o meu passado
Nunca pensei em amor
Não amei nem fui amado
Se julgas que estou mentindo
Jurar sou capaz
Foi um simples sonho que passou
E nada mais”


http://www.4shared.com/audio/7gMhBb2t/05-No_Quero_Mais_Amar_a_Ningum.htm

(áudio com Beth Carvalho)

Aliás, os sambas-enredo são muito mais do que simples canções que servem para emoldurar ou ilustrar um desfile de carnaval. Através deles, ficamos conhecendo um pouco mais da história, um pouco mais de alguns personagens, ou ainda, dão voz a criticas sociais, questionamentos, e grandes reflexões políticas. Mas isso é assunto para um próximo texto!
Pesquista de texto:
"CliqueMusic" (Tárik de Souza para a coluna do UOL)
“Samba de Enredo - História e Arte", de Alberto Mussa e Luiz Antonio Simas - Editora Civilização Brasileira

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

VERSOS MODESTOS

CONCURSO LITERÁRIO “SEMPRE MANGUEIRA”




No carnaval de 2011, a Estação Primeira de Mangueira levará para a avenida o enredo “O Filho Fiel, Sempre Mangueira”, homenagem ao centenário do bamba Nelson Cavaquinho, que imortalizou em suas obras, seu amor incondicional pela verde e rosa, e , compôs, dentre outras, a famosa “Folhas Secas”.
Assim como vários poetas, que imortalizaram seus versos cantando Mangueira, você também poderá expressar seu talento!

“Sempre Mangueira” – A ação cultural que vai premiar os melhores textos que exaltem esse verdadeiro celeiro de bambas, de onde sairam versos que encantam o mundo inteiro!

Sempre Mangueira
(Nelson Cavaquinho e Geraldo Queiroz)

Mangueira é celeiro
De bambas como eu
Portela também teve
O Paulo que morreu
Mas o sambista vive eternamente
No coração da gente
Mas o sambista vive eternamente
No coração da gente
Os versos de Mangueira são modestos
Mas há sempre força de expressão
Nossos barracos são castelos
Em nossa imaginação
Ôh, ôh, ôh, ôh!
Foi Mangueira quem chegou
Ôh, ôh, ôh, ôh!
Foi Mangueira quem chegou


Faça como Nelson Cavaquinho! Faça seus “versos modestos” e participe desse concurso.

E se você quiser saber mais sobre a Mangueira, sua história, e seu carnaval, acesse o site oficial da escola.

www.mangueira.com.br/mangueira



Acesse também o site da 1ª torcida organizada oficial da Mangueira, a “Nação Verde e Rosa”


www.nacaoverdeerosa.com.br


Ou se preferir, entre na comunidade oficial da Estação Primeira de Mangueira no Orkut!

http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=93274169



Idealização: Luzinete Lima (Tia Lu) – Diretora Cultura da Mangueira com a colaboração de Sandro Batista, Isis Barros, Antonio Lourençato, Carlos Oliveira (Mumu), Léo Rangel, Rafa Sampaio e Alexandre Assed

Regras e condições de participação no link:
http://www.nacaoverdeerosa.com.br/regulamento-do-concurso-literario-qsempre-mangueiraq.html



*este concurso não tem vínculo com a instituição Estação Primeira de Mangueira, é uma iniciativa sem fins lucrativos, e a premiação será em livros, gentilmente cedidos por Luzinete Lima.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Daltonismo


"O samba Alvorada foi feito em uma madrugada quando eu e Cartola descíamos o morro do Pindura Saia".
(Carlos Cachaça na última faixa de sua única obra discográfica)

Impossível não evidenciar que a relação samba-morro é ao mesmo tempo estreita e controversa. O samba, que desde sua origem é marginalizado, seguiu com suas origens na direção dos morros cariocas. A discriminação implícita nas pessoas, acabou por fazer do samba, a voz do morro, dos excluídos. Ocorre, que de forma controversa, esse mesmo ritmo marginalizado, é o que melhor exemplifica a cultura brasileira.
Partindo do suposto de que o samba passou a ser a voz do morro, temos diversas vertentes a serem abordadas.
Uma delas, e a mais bela e admirada , é a visão poética! Nessa abordagem, as mazelas e dificuldades são simplesmente omitidas. Não que haja má fé, mas, os poetas sambistas, em vários momentos, lançaram olhares poéticos sobre a rudeza da vida segregada da favela, e nos presentearam com suas principais obras do gênero.
“Alvorada”, o clássico de autoria de Cartola e Carlos Cachaça, surgiu, segundo Carlos Cachaça, numa madrugada em que ambos desciam o morro do Pindura Saia. A visão da natureza, a embriaguez de beleza, os fez lançar um olhar totalmente poético sobre o Morro da Mangueira. Não acredito ter sido uma tentativa de esconder os problemas de toda comunidade carente, mas sim uma forma de mostrar que o morro, não é feito apenas de mazelas. Uma forma de mostrar que existe beleza, e que os dias no morro, nascem como nascem em qualquer lugar. O morro deixa de ser sombrio, e explode em beleza. E quem sabe não quiseram os autores despertar a esperança, e mostrar que a vida floresce no morro, resistindo bravamente às dificuldades.
“Alvorada lá no morro, que beleza,
Ninguém chora, não há tristeza
Ninguém sente dissabor
O sol colorindo é tão lindo, é tão lindo
E a natureza sorrindo, tingindo, tingindo
( a alvorada )....”

Existe também o samba como forma de expressão e rebeldia. Uma forma de chamar atenção para as mazelas, para o abandono, e até quem sabe, um grito de socorro. Hoje, é comum vermos nos noticiários cenas de horror nos morros cariocas, mas isso, toda essa difusão de informações, dá-nos a falsa sensação de que a vida no morro, de uma hora pra outra, tornou-se um caos. Engana-se quem pensa assim. Todo processo tem um começo, e não existem fenômenos. O que acontece hoje, é fruto de um processo longo, de anos, que talvez tenha apenas se agravado em face da própria evolução da sociedade, cada vez mais desinteressada, ou conformada. Muitos sambas serviram como pedido de socorro, grito de alerta, e mostraram o lado não tão poético das favelas.
Zé Ketti, em 1965, já denunciava o descaso das autoridades, o abandono da sociedade, e na canção “Acender as Velas” já dizia o que hoje, mais de 40 anos depois, vemos nos noticiários.



“Acender as velas
Já é profissão
Quando não tem samba
Tem desilusão
É mais um coração
Que deixa de bater
Um anjo vai pro céu
Deus me perdoe
Mas vou dizer
O doutor chegou tarde demais
Porque no morro
Não tem automóvel pra subir
Não tem telefone pra chamar
E não tem beleza pra se ver
E a gente morre sem querer morrer”


Em ambos os casos, fica evidente que o sambista do morro teve sensibilidade para ver beleza onde para os olhos preconceituosos da sociedade, só existe miséria e dor. E teve coragem, para mostras àqueles que se conformaram com a miséria e a dor, que a marginalização do morro é um problema comum, e não isolado. O samba, sem sombra de dúvida, é uma voz que não cala. E se de um lado, ele nos conforta, e nos faz sonhar que belas imagens, de outro, ele nos traz à realidade que não queremos enxergar. O samba é a flor que nasceu na terra árida, esquecida, mas que foi regada com sentimento, com orgulho, com engajamento. O samba que vem do morro é a prova de que existe esperança, existe uma gente que não pode , nem nunca será esquecida. Porque o samba jamais vai se calar! Ele sempre estará a nos lembrar que aquela gente esquecida, está cada vez mais presente em nossa vida. De alguma forma, o samba nos chama para a realidade poética, ou para a poesia insossa chamada favela!


Fontes de Pesquisa:
http://www.jblog.com.br/hojenahistoria.php?itemid=3995

“Artigo: As múltiplas representações da ‘favela’ no universo das letras de samba” - André Pelliccione ( Jornalista e Mestre em Ciência Política pela UFRJ). Para o SINDSPREV on line.
Créditos da segunda foto: Claudia Ferreira

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O famoso Agenor


Além do nome de batismo, ambos tinham em comum o talento nato para a poesia.
Quando lembramos de ambos, invariavelmente nos referimos a eles como poetas. Transcenderam, cada qual ao seu modo, a linha imaginária que separa o comum do genial.
E também, em comum, tinham a visão privilegiada da dor. Poucos conseguem ver beleza na dor, e expressá-la de forma sublime, e ao mesmo tempo tão verdadeira.
Ambos somente tiveram a consagração quando parecia já ser tarde. Mas para a eternidade, nunca é tarde!
Cazuza e Cartola, que foram unidos apenas na emoção, sem talvez nunca ter um esbarrado no outro, tinham um elo muito maior que a relação fã – ídolo.
Cartola era o ídolo de Cazuza, e ao seu modo, foi o Cartola do Rock. E não seria nenhuma heresia afirmar que Cartola fora o Cazuza do samba.
Cazuza levava para o rock todo o sentimento típico dos sambistas, e Cartola imprimiu em muitas de suas obras, toda a rebeldia e afirmação típicas do rock. Cada um no seu tempo, juntos por todo o tempo, por terem sido poetas!



Cazuza, o “exagerado” não foi um rockeiro comum. O que fazia dele alguém incomum, era , expressar em poesia, suas dores , dissabores, angústias. Ele dissecava os sentimentos mais comuns com tamanha beleza e poesia, que seus versos até hoje ecoam pelos quatro cantos desse País. O que Cazuza tem a ver com samba? Tudo! Desde a coincidência com seu homônimo, o que aliás o encorajou a assumir o nome de batismo ainda na juventude (sim, Cazuza somente foi convencido a aceitar o nome “Agenor”, ao ouvir de sua mãe, que era o mesmo nome de seu ídolo, Cartola).
Até a alma, típica de sambista , que mistura sentimentos, nostalgia, sinceridade. Cazuza muito mais do que usar o rock como voz para protestar, usou o rock para dizer que existia dentro de cada um de nós, uma pessoa comum. Cazuza, usando da rebeldia que era típica de sua geração, protestou contra tudo e contra todos, e talvez, até mesmo como uma espécie de auto-crítica ao modismo que teimava em esconder fraquezas atrás de uma força imaginária que cada um tem dentro de si, fez da “dor de cotovelo” uma de suas maiores bandeiras. Cazuza tinha um sambista dentro de si...

E não sou em quem estou dizendo...
Isso, foi ele, o próprio Cazuza, quem falou:

“Eu sou letrista de rock, por acaso. Se houvesse pintado um grupo de samba, em vez do Barão Vermelho, eu estaria compondo sambas. De qualquer forma, sou muito latino, muito passional, e minha poesia reflete isso. Posso tentar caminhar no estilo Joy Division, mas quando vou ver o resultado, está muito Cartola.”

“Cartola não existiu, Foi um sonho que a gente teve!”

“Acho até que, atualmente, poucos compositores falam da dor. Antigamente tinha aos montes: Dolores Duran, Lupicinio Rodrigues, Noel Rosa, Cartola, Maysa e tantos outros”

Raridade! No especial, "Chico & Caetano", da Rede Globo, em 1985, Cazuza interpreta "Luz Negra", de Nelson Cavaquinho.

Se alguém tem dúvida de que Cazuza tinha um sambista dentro de si, vale uma olhada para tirar sua conclusões!


http://www.youtube.com/watch?v=z_hdQnvDHQY

Fonte de Pesquisa: "Cazuza - Só as Mães São Felizes" - Lucinha Araújo (depoimento à Regina Echeverria) - Editora Globo

sábado, 25 de setembro de 2010

Mea Culpa, Culpa Nossa


“Pergunte ao criador, quem pintou essa aquarela,
Livre do açoite da senzala, preso na miséria da favela”
( "100 anos de liberdade, realidade ou ilusão?" - Hélio Turco, Jurandir e Alvinho)


Tentaram matar o samba.
Mas ele não morreu, sobreviveu.
E então tentaram matar a Mangueira,
E ela também não morreu, sobreviveu.
Depois, o atentado foi contra a bandeira
E da mesma forma, só desbotou, mas não morreu.
E como não ficaram satisfeitos,
Meterem uma faca em seu peito,
E aí não teve jeito:
Foi o sonho quem morreu!
Procurando os culpados,
Decepção, todos achados,
Devidamente identificados:
Éramos todos nós, vocês e eu!



A Mangueira é uma árvore forte e resistente, que fornece além de frutos, uma robusta e aconchegante sombra. É comum sentarmos em volta de uma Mangueira, e nos esbaldarmos de seus frutos saborosos, e ficarmos à sua sombra, à espera do fim do sol escaldante. É uma árvore que encontrou excelente clima e ambiente no hospitaleiro solo brasileiro , e já que “nessa terra, tudo o que se planta dá”, é acometida de pragas, ervas daninhas, e toda sorte de parasitas.
Quando uma Mangueira sucumbe, toda a vida em sua volta vai-se junto. Acabam os frutos, a sombra, e resta apenas o vazio, o oco, um tronco sem vida.
Preservemos a Mangueira!



Nomes de Favela
Composição: Paulo César Pinheiro


O galo já não canta mais no Cantagalo
A água já não corre mais na Cachoeirinha
Menino não pega mais manga na Mangueira
E agora que cidade grande é a Rocinha!
Ninguém faz mais jura de amor no Juramento
Ninguém vai-se embora do Morro do Adeus
Prazer se acabou lá no Morro dos Prazeres
E a vida é um inferno na Cidade de Deus
Não sou do tempo das armas
Por isso ainda prefiro
Ouvir um verso de samba
Do que escutar som de tiro
Pela poesia dos nomes de favela
A vida por lá já foi mais bela
Já foi bem melhor de se morar
Mas hoje essa mesma poesia pede ajuda
Ou lá na favela a vida muda
Ou todos os nomes vão mudar


http://www.4shared.com/audio/W4xreOK-/14_Leci_Brando_-_Nomes_De_Fave.htm


terça-feira, 21 de setembro de 2010

Manda na Lata!


“Um menino da Mangueira
Recebeu pelo Natal
Um pandeiro e uma cuíca
Que lhe deu Papai Noel
Um mulato sarará
Primo irmão de dona Zica
Foi correndo organizar
Uma linda bateria
Carnaval já vem chegando
E tem gente batucando
São meninos da mangueira”

("Os meninos da Mangueira -
Rildo Hora e Sérgio Cabral)


Nasceu no morro.
Como tantos outros, no morro cresceu.
E como muitos do morro, nem sei dizer se ao pai conheceu.
Mas, como tudo que um dia nasce, aquele menino também cresceu.
Talento foi dado de berço: Berço de samba.
Menino de morro, crioulo valente,
conhece bem cedo o quanto é difícil
viver e ser gente!
Menino “crilouro”, cabelo pintado,
“neguin viado”!
Não chegou de brincadeira: categórico, mandou na lata,
“Eu sou Mangueira!”
E de batida em batida e de tanto dizer que seria bem grande
quando viesse o dia que fosse crescer,
o menino partiu na direção da batida perfeita,
E como a vida por vezes se mostra uma estrada estreita,
O menino disse adeus, mas não em despedida!
Peito aberto, alma ferida , chorou ao ver os outros meninos
batucarem na avenida!
Chegava a hora de cumprir o destino,
e foi então que disse adeus ao menino!
Vamos homem!
Esqueceu que foi você quem disse
que não estava ali de brincadeira?
Então enxuga os olhos,
Pegue o lenço, a tua bandeira,
E manda na lata!



Ivo Meirelles é músico. Junto com Lobão, foi o inventor do “Funk`n Lata”, banda que viaja o mundo, mostrando uma mistura de samba com o funk carioca, fazendo um som totalmente ousado e “diferente”.
É autor do samba-enredo da Mangueira de 1986, um dos mais conhecidos do carnaval carioca (todo mundo já ouviu o famoso refrão “Tem xinxin e acarajé, tamborim e samba no pé”), e tem uma trajetória longa na verde e rosa, sendo membro de uma das mais tradicionais famílias mangueirenses. De estilo tido por muitos como “rebelde”, é conhecido no meio artístico principalmente por sua personalidade. Franco e objetivo, costuma “mandar na lata” o que pensa, e embora sua figura seja associada ao funk, Ivo tem fortes raízes no samba, já tendo sido diretor e Presidente da Bateria da escola mais tradicional nesse quesito. Aliás, talvez isso explique sua íntima ligação com esse setor específico da Mangueira. A idéia de fazer concurso para eleger “Rainha de Bateria” é atribuída a ele. Aliás, em seus shows é comum ver integrantes da “Surdo Um” como é denominada a bateria da Estação Primeira de Mangueira.
Ivo Meirelles foi eleito Presidente da escola em 2009, um raro exemplo de dirigente de escola de samba na atualidade que seja um “autêntico” sambista. É um artista com raízes em Mangueira a exemplo de outros grandes nomes famosos, que levam o nome da Estação Primeira por onde passam, demonstrando amor e dedicação aquela que é considerada a escola de samba mais popular do mundo.



“Não estou aqui pra brincadeira,
Quero lhe dizer que sou Mangueira”
(“Vou pra ganhar” – Ivo Meirelles)

Fontes de Pesquisa:
Entrevista concedida por Ivo Meirelles ao “Hora Sonora”, de Curitiba/PR.
“Yahoo! Música”
“Clicmusic”

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Bambas!


Não canso de agradecer e ficar feliz em receber selos, sinal de que alguém gosta do que eu escrevo sobre o samba, e sobre os grandes nomes da imensa constelação de estrelas que formam o céu da minha Estação Primeira de Mangueira! Recebi do “Ampulheta”, do “Vaunei Guimarães” e do “Alguém me Ouviu”, cujos links estão nos meus “Blogs de Ouro”, basta clicar e se deliciar, mais alguns presentes (sim, são presentes e são valiosos pra mim!)
Cada vez que alguma coisa que tenha partido de mim cause em alguém um sorriso, um ensinamento, uma manifestação de satisfação, uma só que seja, será o suficiente para que eu continue fazendo essa coisa. Não me importa quantos eu possa atingir, mas o quanto eu possa fazer para alguém. Nem que seja para uma única pessoa!

Obrigado a todos esses amigos blogueiros!

Bom, como foram muitos, eis os que eu indico e ofereço selo, reconhecimento e aplausos pelo trabalho que fazem, cada qual a suma maneira, todos de ótima qualidade!
Basta cada um pegar seu presente!

Selo ESCRITORES VIRTUAIS



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Blogando com Renan
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E para todos esses, eu ofereço, além dos que ofereci individualmente cada um dos selos, o SELO DE QUALIDADE, que tem uma regra:

1 – Indique-o para 9 blogs!
2 – Fale 9 coisas sobre você!

Para todos os demais selos, a regra é indicar alguns blogs para recebe-lo, e na postagem que fizer, citar o nome do blog que lhe presenteou!

domingo, 12 de setembro de 2010

Nó na garganta, nó da madeira: NOSSA MANGUEIRA!


E seguiu a alegoria,
vermelha como a cor dos olhos da imensa nação,
Rumo à apoteose, para enfim, a dispersão.
A olhar da arquibancada uma platéia fria: concreto e ferro; poesia.
Ao fundo a marcar a cadência das lágrimas, batida única,
Um surdo a emoldurar o canto mudo da harmonia
E foi seguindo, em evolução, um conjunto de sentimentos,
Saudade, orgulho, e a emotiva felicidade
De um samba-enredo que em desespero
Desabrochava num só refrão:
“Ô ô ô ô,
a Mangueira chegou!”
A bandeira não girava, apenas repousava solenemente
A cobrir o mestre-sala que trazia na garganta
o cortejo mais nobre da fantasia de toda aquela gente
Que sobe e desce ladeira
Segunda à Sexta-feira.
Sábado e domingo, feira!
Um enredo lapidado por quase uma centena de anos,
E por algumas outras dezenas deles, entoando dedicação,
E talvez por milhares de vezes
Por esse país que passa da casa do milhão.
E aplaudiu a multidão, em silêncio o desfile,
Que acabou!
Campeão!






José Bispo Clementino dos Santos, nasceu em 12/05/1913, no Rio de Janeiro. Foi engraxate e vendedor de jornal, até conhecer a música, e foi logo tocar tamborim e cavaquinho nos subúrbios cariocas.
Com 15 anos, conheceu a Mangueira, e foi logo para a bateria da escola. Participando das rodas de samba na Praça XI, sua voz foi logo notada, e daí para ser cantor de gafieiras, foi um pulo. Na década de 40, mais precisamente em 1945, apresentou-se num show de calouros, cantando o clássico “Ai que saudades da Amélia” e seu “Gogó de Ouro” chamou logo atenção da gravadora Continental, que o contratou. Surgia nessa época o emblemático JAMELÃO.
Com sua voz, eternizou os sambas-canções, e a música de Lupicínio Rodrigues, brilhou nos palcos através do talento do “cantor das multidões” ou o maior cantor de dor-de-cotovelo de que se tem notícia.
Sua carreira solidificou-se e seu contrato de exclusividade com a gravadora, não permitia que “a voz do samba” gravasse as faixas da verde e rosa nos discos oficiais (que eram por outro selo). Somente em 1986, Jamelão deu voz ao samba da Mangueira na faixa do disco oficial, mas na avenida, sempre fora ele, desde 1949 a defender as cores do pavilhão de que tanto orgulhava-se.


No carnaval de 1985, devido a compromissos em São Paulo, e por conta de um famigerado atraso de vôo, somente conseguiu chegar ao Sambódromo quando a Mangueira já estava desfilando, e foi a única vez, pelo menos que eu tenha notícia, que sua voz não foi ouvida no desfile oficial da escola durante o mais de meio século como a voz oficial do samba verde e rosa.
Após o carnaval de 1990, Jamelão disse que encerrava sua carreira de cantor dos sambas da escola, mas no carnaval seguinte lá estava ele, firme e forte.
Ao todo, foram 6 Estandartes de Ouro (prêmio do carnaval carioca).
Em 2001, foi elevado a “Presidente de Honra” da Estação Primeira de Mangueira, e nesse mesmo ano, recebia do então Presidente da República a “Medalha da Ordem do Mérito Cultural” comenda máxima que uma personalidade pode receber no País, pelo conjunto de sua obra, e pela contribuição para a cultura do Brasil.
Em 2006, Jamelão defendia a Mangueira em desfile pela última vez, não por que queria, mas a saúde já não mais o permitiria no ano seguinte.
No ano de 2008, aos 95 anos, Jamelão saiu de cena para entrar para a eternidade!
Aliás, Jamelão apenas saiu de cena em 2008. Na eternidade ele havia entrado fazia tempo!






“A vida dura que conhecera desde pequeno, no Engenho Novo, vendendo jornal, engraxando sapatos ou como operário na fábrica de tecidos Confiança, a dos três apitos cantados por Noel, o rondava novamente, muito embora fosse funcionário público aposentado da Secretaria de Segurança do Estado do Rio. O disco que lançara no ano anterior Por Força do Hábito, pela Som Livre, não havia funcionado bem, apesar de sua disposição para divulgá-lo. “É só me chamar que eu vou, para emissoras de rádio, televisão, entrevistas, shows. Tô nessa!”, disse em entrevista ao jornal O Globo. Com Jamelão desapareceu o último grande cantor de sambas-canção em atividade e um tipo de puxador de samba de escola que deixou raríssimos seguidores, todos eles pouco expressivos.”
http://veja.abril.com.br/blog/passarela/figuracas/jamelao/


"Miiiiiiiiiiiiiiiinha Mangueira"


(Jamelão)



Fontes de Pesquisa:

“Uol Educação – Biografias”

“Veja on line”

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

"Quando derem vez ao morro...Toda cidade vai cantar!"

Para se compreender a “magia” que envolve o Morro da Mangueira, sua importância cultural, e seu poder transformador dentro de uma sociedade cheia de problemas que todos nós conhecemos, é preciso fazer uma rápida viagem no tempo e na história do Rio de Janeiro.



No ano de 1908, o Centro do Rio, habitado principalmente por ex-escravos e seus descendentes (vindos da Bahia), sofreu uma reforma em sua estrutura arquitetônica, e não é difícil imaginar que esses moradores tiveram que procurar outros espaços para fixar moradia. Não foi um acaso do destino que levou grande parte deles para o Morro da Mangueira e adjacências. Perto dali, no morro, existia uma fábrica de chapéus, que ficou conhecida por “Chapéus Mangueira” devido a grande quantidade da árvore no local. O português Tomas Martins, tratou de povoar a região, visando evidentemente o lucro, uma vez que seria mais barato aos trabalhadores da fábrica residirem ali tão próximos, e com isso, o Morro foi ganhando mais e mais moradores. Evidentemente que os habitantes, devido suas origens, levaram para o local também seus costumes, sua cultura, e foi assim que o samba foi pra lá, fixar moradia.
O que o destino já havia escrito e ninguém sabia, é que bem perto dali, um certo Agenor, assíduo freqüentador das rodas de samba do Estácio (tido como o verdadeiro berço do samba), por problemas financeiros, teve que se mudar de Laranjeiras, seu bairro de origem, e foi instalar-se justamente naquele lugar, que já conhecia por ser freqüentador das rodas de samba que faziam no local e pelos blocos carnavalescos que lá existiam!

Pronto! O “acaso” fez um dos casamentos mais perfeito que se tem notícia na história da cultura nacional. Cartola, talentoso que era, tratou logo de atrair os grandes bambas das rodas do Estácio para o Morro, e a química perfeita formou-se: morro – favela – descendentes de escravos, e o samba parecia ter encontrado no solo mangueirense seu habitat natural.
Mas isso ainda era a ponta de um iceberg! O samba originalmente era um ritmo discriminado, marginalizado, tipificado até os dias de hoje pelo malandro carioca, e opinião minha, talvez por isso, tenha dado tanto certo no Morro da Mangueira. Sua localização geográfica, embora privilegiada (o Morro não fica no fim do mundo, pelo contrário, fica ali, encravado no coração do Rio), por ser no alto, num lugar tão evidente e ao mesmo tempo tão isolado, talvez tenha encontrado a paz que precisava para fluir naturalmente. Disso para a criação da escola de samba foi um pulo. Lá já existiam diversos ranchos e blocos, e aí começa a acontecer um fenômeno que viria a ter reflexos mais tarde, e que todos nós conhecemos. Percebeu-se que somente a união poderia dar voz mais alta ao movimento e a agregação de valores comuns (afinal de contas, todos eram marginalizados) deu força a voz que vinha do alto do Morro.
Mais uma uma vez, o destino foi generoso com a Mangueira. Cartola era um gênio da música, e a ele juntaram-se tantos outros, como Nelson Cavaquinho, Carlos Cachaça, Zé Ketti (que conheceu o samba de raiz em Mangueira), Padeirinho, e tantos e tantos outros de igual talento, e através das obras desses ícones da MPB, a Mangueira ganhava prestígio e status de celeiro.
Assim como esses, outros contemporâneos lançaram olhares sobre aquele lugar que inexplicavelmente ia na contramão do que parecia óbvio, ou seja, a segregação e o esquecimento. O fenômeno das favelas foi tomando conta do Rio, e com ele toda a sorte de preconceitos. Mas a Mangueira já tinha conquistado a todos, devido ao incontestável talento de seus bambas, que estampavam o orgulho mangueirense em suas obras. Muitos foram os grandes nomes da música que flertaram, ou se entregaram ao talento Mangueirense. Artistas hoje consagrados dos mais diversos segmentos musicais, de uma forma ou de outra, foram conhecer de perto o som que vinha daquele morro. A elite da bossa nova, a contestação da Tropicália, a busca de identidade do Rock Nacional, e movimentos mais contemporâneos como o funk, e outros derivados do samba, todos eles, de alguma forma exaltaram e ainda o fazem com a Mangueira.
O poder transformador do samba que vem do Morro da Mangueira, tem ainda papel fundamental na transformação social daquela comunidade, mas isso é assunto para uma próxima postagem.



"Mangueira é
Um canto de fé
Que leva o samba
Na poeira e no pé"
(Eraldo Faria, Geraldo das Neves, Flavinho Machado)


Fonte de pesquisa:
“Folião da Mangueira: Identidade e sociabilidade”
Carolina Marques Henriques

Universidade Federal do Rio de Janeiro
“III Simpósio Nacional ABCiber - Dias 16, 17 e 18 de Novembro de 2009 - ESPM/SP - Campus Prof. Francisco Gracioso”

Capital Social na Favela da Mangueira”
Maria Alice Nunes Costa

"RIO DE JANEIRO: TRABALHO E SOCIEDADE - Ano 2 - Nº 3"
*artigo integrante da dissertação de mestrado da autora,intitulado “Samba e Solidariedade:capital social e parcerias coordenando as políticas sociais da Mangueira,RJ., 2002, Programa de Pós-Graduação em Antropologia e Ciência Política da Universidade Federal Fluminense.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Selos e Agradecimentos


Recentemente fui presenteado pelo blog do Vaunei Guimarães, que leva seu nome e já está listado entre os meus “Blogs de Ouro”, com dois selos.
Já agradeci na página dele, mas venho novamente agradecer pelo reconhecimento. Eu escrevo com meu coração, e claro, sou vaidoso e humano, e adoro receber elogios. Mas, acima de tudo, quero levar um pouco de samba, cultura, e dismistificar a idéia que o Morro (de Mangueira, que é meu foco), é lugar de marginal, violência e criminalidade O samba feito no Morro é de alta qualidade, as pessoas que vivem lá são comuns, como todos nós, e tem problemas sociais, como muitos de nós! Os problemas que lá existem, não são exclusividade de lá, são igualmente comuns a tantos outros lugares, seja ele o mais pobre morro ou o mais nobre dos bairros.
No samba, está a expressão mais pura de nossa cultura, e no meio daquela gente que sofre problemas como todos nós, existe muita alegria, talento, orgulho e acima de tudo, dignidade. O samba que vem dos morros, e nesse caso, do Morro de Mangueira, é a prova maior da resistência de uma gente que, como todo brasileiro, nunca desiste de ser feliz!

Obrigado pelo reconhecimento!

Hoje vou postar um, e mais adiante, o outro:
“Selo Versatile Blogger”

Regras:
Postar 9 coisas sobre mim e indicar 4 blogs

1 – Sou Mangueirense!
2- Meu time de coração é o Fluminense/RJ (o mesmo do Mestre Cartola)
3 – Ao contrário do que possa parecer, não gosto apenas de samba, na verdade meu gosto musical é bastante eclético. Adoro samba, música eletrônica, bossa nova e MPB de um modo geral.
4 – Meus ídolos, são: Ayrton Senna e Elis Regina (são ímpares!)
5 – Adoro programas de humor, não os pasteurizados, mas os mais besteiróis mesmo.
6 – Meu defeito é ser destemido. Sim é um defeito, porque o medo é um aliado, mas eu não consigo ter medo de nada!
7 – Tenho mais de 30 anos e menos de 40 (kkkkkkkkkkkkkkk)
8 – Eu sou feliz, embora tenha momentos de tristeza.
9 – Otimismo sempre: eu acredito de verdade nas pessoas e nas boas intenções.

Meus indicados:

www.ogroland.blogspot.com

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O rugido "da" Leão


Sou a mulher mais corajosa que conheço. Na intimidade, podem me chamar de Nara Coração de Leão.” (Nara Leão)


Na infãncia, era apenas uma menina tímida.
Filha da Zona Sul carioca, chegou à maturidade em plena ditadura militar e nos anos ditos “dourados”, embora nem tudo que reluza seja ouro, já dizia a avó de todos nós.
A bossa nova nascia num apartamento, numa roda de amigos, que cansados da mesmice das músicas da época, faziam novas experiências e queriam algo genuinamente nosso.
O apartamento ficou pequeno, o palco ficou pequeno, o Brasil ficou pequeno. A timidez ficou pequena, e aí, quem se apequenou foi a ditadura. Como conter o rugido doce e firme de um Leão de verdade?
As amarras e as jaulas não foram capazes de conter a fúria incontrolável daquela voz.
Até hoje Nara Leão é um ícone da bossa nova. Na voz de Nara, o ritmo “desafinado” ganhou o País e o mundo.
A fera, que já trazia no sobrenome sua força, fez do seu talento muito mais que uma voz a serviço da música. Sua voz serviu para protestar, para ousar, para enfrentar o regime opressor, e a própria opressão social.
Aquela suavidade escondia uma mulher engajada, e para surpresa de todos, em seu disco de estréia, quem esperava apenas bossa nova, enganou-se.
No ano de 1964, Nara Leão lançava seu primeiro LP, de nome “Nara”, e surpreendendo público, críticos e ditadura, resgatava artistas que tinham a seu favor apenas o talento. Longe dos holofotes, os sambistas do morro não produziam comercialmente, e suas obras ficavam à mercê da sorte e do bom gosto daqueles que sabiam reconhecer na simplicidade, naquela gente simples, a mais pura poesia.
Seus estrondoso show “Opinião”, que deu nome ao segundo disco da cantora, também naquele ano, levava ao estrelato os artistas dos morros cariocas. De forma impetuosa e desprovida de quaisquer preconceitos, a garota da elite da Zona Sul carioca cantava sambas de autores até então pouco conhecidos, ou não reconhecidos pura e simplesmente por serem do morro.
E foi assim que Nara, a musa da bossa, deixou o asfalto e subiu o Morro da Mangueira, para encontrar as jóias de Cartola e Nelson Cavaquinho.
E assim, as obras-primas “O sol nascerá” (Cartola/Elton Medeiros) e “Luz Negra” (Nelson Cavaquinho/Amâncio Cardoso), chegavam aos ouvidos do grande público, eternizando-se na história da MPB.
Pelo rugido destemido de uma fera: Nara Leão!

“Opinião”
(Zé Keti)

“Podem me prender, podem me bater
Podem até deixar-me sem comer
Que eu não mudo de opinião.
Daqui do morro eu não saio não, daqui do morro eu não saio não.
Se não tem àgua, eu furo um poço
Se não tem carne, eu compro um osso e ponho na sopa
E deixo andar, deixo andar
Fale de mim quem quiser falar
Aqui eu não pago aluguel
Se eu morrer amanhã, seu doutor
Estou pertinho do céu”

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A Flor e o Espinho de Nelson Cavaquinho - O Trovador dos Aflitos

Nelson Cavaquinho é na minha opinião um artista atemporal. Basta uma ligeira passada em algumas de suas composições, para percebermos que seja qual for a época, suas obras sempre serão atuais.
Poucos cantaram com tanta precisão e sensibilidade, e de maneira tão simples e profunda, as dores do coração. Embora exista muita melancolia nas imortais obras de Nelson e seus parceiros, é curioso observar que muito mais que cantar as dores, as decepções, os medos e as desilusões, Nelson do alto de sua poesia, sempre mostrou-se otimista.





Juízo Final
(Élcio Soares / Nelson Cavaquinho)
"O sol....há de brilhar mais uma vez
A luz....há de chegar aos corações
Do mal....será queimada a semente
O amor...será eterno novamente
É o Juízo Final, a história do bem e do mal
Quero ter olhos pra ver, a maldade desaparecer"

Ao mesmo tempo em que musicou dor e sofrimento, expressou também que sempre haverá algum motivo para sorrir, ou para se ter esperança, e ao invés de mergulhar-nos na mais profunda depressão, as obras de Nelson nos permitem sofrer, sem o menor constrangimento, mas com a certeza de que a dor há de passar.
Nelson desmascarou a força que esconde-se por trás das lágrimas dos desamores e dissabores da vida, falando abertamente, o que na verdade é um grande desabafo. Nelson sofreu para todos nós. Ele corajosamente disse o que muitos de nós, na soberba da ferida aberta, fingimos não sentir. Através das cordas do violão de Nelson e de sua voz rouca e cheia de sofreguidão, a dor de cotovelo ganhou voz, ganhou alma, e seus desabafos, são os mesmos nossos.
Nelson não teve vergonha de temer a morte! Não teve pudor em cantar os dissabores de uma vida vadia. Poucos poetas foram tão verdadeiramente realistas como Nelson, e a beleza de suas obras está no fato de que ele, ao contrário do que se pensa, não fingia. Ele apenas enfeitava de flores o que machuva o coração.
Ao lançar um olhar sobre as obras de Nelson Cavaquinho, inevitavelmente nos parece, estarmos lendo um blog, ou um diário, ou o twitter de alguém. O que são essas ferramentas senão uma forma de nos sentirmos humanos, e expressarmos sob o pretexto do anonimato, aquilo que por vezes nos falta coragem de dizer olhando nos olhos de alguém?


Ninho Desfeito
(Nelson Cavaquinho - Wilson Canegal)
"Vives no meu pensamento
Não esqueço um segundo de ti
É minha vida um tormento
Sofrimento igual nunca vi
Teu perfume ficou em meu leito
No meu peito ficou teu amor
Volta que ninho desfeito é uma casa onde mora a dor
Se batem na porta do meu triste lar
No peito meu coração se agita
Abro, a esperança desfaz-se no ar
Por nao encontrar por quem ele palpita
No entanto, eu espero sem desesperar
Pois sei que voltarás um dia
Sei que virás novamente enfeitar nosso lar de prazer e alegria"


E justamente por isso, por Nelson ter sido tão simples, que tornou-se genial. O que imortalizamos em diários virtuais, ele eternizou em belas melodias. Evidenciou seu amor à Mangueira, seu amor à boemia, seu medo de morrer e cair no esquecimento, mas sempre com a sutileza de quem guardava no fundo a certeza de que algo de bom existia nas desventuras da vida.

Palhaço
(Nelson Cavaquinho)
"Sei que é doloroso um palhaço
Se afastar do palco por alguém
Volta, que a platéia te reclama
Sei que choras palhaço
Por alguém que não lhe ama
Enxuga os olhos e me dá um abraço
Não te esqueças, que és um palhaço
Faça a platéia gargalhar
Um palhaço não deve chorar"



Até mesmo a fama, já tardia, é a evidência de que o otimista Nelson estava certo. Quando ela lhe sorriu, Nelson já não era tão jovem, mas pode sentir o sabor que sempre tentava nos passar em suas canções. De que a vida e seus percalços é na verdade um grande aprendizado, e nós haveremos de ser otimistas, para que não desemboquemos no precípio do esquecimento.

Quando Eu Me Chamar Saudade
( Nelson Cavaquinho/Guilherme de Brito)
"Sei que amanhã
Quando eu morrer
Os meus amigos vão dizer
Que eu tinha um bom coração
Alguns até hão de chorar
E querer me homenagear
Fazendo de ouro um violão
Mas depois que o tempo passar
Sei que ninguém vai se lembrar
Que eu fui embora
Por isso é que eu penso assim
Se alguém quiser fazer por mim
Que faça agora.
Me dê as flores em vida
O carinho, a mão amiga,
Para aliviar meus ais.
Depois que eu me chamar saudade
Não preciso de vaidade
Quero preces e nada mais"


Nelson Cavaquinho, se vivo estivesse, completaria 100 anos de vida ano que vem.
Seu legado viverá eternamente, porque assim ele profetizou. Nelson era de fato um poeta, e como tal, fingiu como ninguém. E no seu fingimento de quem temia ser esquecido, imortalizava-se a cada linha que escrevia e a cada toque no seu violão.


Pranto de Poeta
(Nelson Cavaquinho / Guilherme de Brito)
"Em Mangueira
Quando morre um poeta
Todos choram
Vivo tranquilo em Mangueira porque
Sei que alguém há de chorar quando eu morrer

Mas o pranto em Mangueira é tão diferente
É um pranto sem lenço
Que alegra a gente
Hei de Ter um alguém
Pra chorar por mim
Através de um pandeiro e de um tamborim"

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

O Garimpo do Bello


Que a Mangueira é um verdadeiro “Chão de Esmeraldas”, disso não resta dúvida. Muito da história da Música Popular Brasileira, e muito do tudo que o samba representa dentro da nossa cultura, brotou daquele chão, porque lá, “a poesia, feito um mar, se alastrou”.
Mas como todo grande tesouro, há que se ter um garimpeiro! Uma jóia somente o é, após a pedra ainda bruta, ser descoberta, e lapidada, e levada aos olhos de todos com todo seu esplendor.
Em Mangueira, esse verdadeiro oásis de pedras preciosas, também certa vez apareceu um garimpeiro.
E no seu “sobe e desce constante”, pôs-se a procurar esmeraldas, e tantas outras relíquias, e entre flores, poesias e canções, encontrou nas escavações uma “Rosa de Ouro”, e o seu talento fez reluzir por todos os cantos os mais iluminados diamantes que surgiam ali, tão perto e distante, na verdade “um céu no chão” se avistado do alto.
E como “a Mangueira é tão grande, que nem cabe explicação”, nem ele, junto com seu amigo Paulinho, conseguiram entender com clareza o que acontecia naquele lugar. Como jóias não precisam de explicação, apenas de polimento, eis que o garimpeiro, que já nasceu conhecendo o “Bello”, encarregou-se de mostrar a todos suas grandes descobertas.
E eu “nem sei se toda beleza de que lhes falo” seria privilégio de tantos, não fosse por ele, o garimpeiro, surgido na “Alvorada”, cujos olhos conseguiram sim perceber, e cujas mãos ousaram sim tocar, tirando da “estrada perdida” a riqueza do Morro de Mangueira.


Hermínio Bello de Carvalho, compositor, poeta, produtor musical, é um ícone da Música Popular Brasileira. Emprestou seu talento a mais de 100 produções, dentre as quais, destacam-se discos de Cartola, Nelson Cavaquinho, Carlos Cachaça, dentre outros. Na década de 60, produziu o antológico espetáculo “Rosa de Ouro”, que reunia nada menos que Clementina de Jesus, Paulinho da Viola, Nelson Sargento e Elton Medeiros.
Junto com o parceiro Paulinho, compôs uma das mais perfeitas homenagens à Mangueira, o “Sei lá, Mangueira”, uma “ode” à Mangueira e seus poetas, um hino da MPB. É parceiro de Chico Buarque na composição, também em homenagem à Mangueira, “Chão de Esmeraldas”, e uma das suas obras mais emblemáticas, é numa parceria com o grande Mestre Cartola e Carlos Cachaça, a histórica canção “Alvorada”.


Hermínio era aliás o maior amigo de Cartola. Tal amizade era tamanha, que na missa de sétimo dia do Mestre, Dona Zica, sua viúva, ofereceu a ele o anel que pertencia ao marido, uma lira de ouro, “o anel de formatura de sambista”.
Dona Zica o fez atendendo a um desejo expresso pelo marido, antes de morrer!

Pesquisa de texto:
Site “Biscoito Fino” e o livro “Cartola, os tempos idos” (Marília T. Barboza da Silva e Arthur L. de Oliveira Filho – Editora Funarte – Ministério da Cultura)


Canções:
“Sei lá, Mangueira” (Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho)
“Chão de Esmeraldas” ( Chico Buarque e Hermínio Bello de Carvalho)
“Alvorada” (Cartola, Carlos Cachaça e Hermínio Bello de Carvalho)

Imagens: Foto 1 – “Uol – Sovaco de Cobra” - Foto 2 – “O Dia on line”

domingo, 25 de julho de 2010

Verbo Bater


Eu Bateria.
E tu, Bateria?
Ah, ele Bateria.

Pra nós Bateria
Por vós, Bateria!
Pra eles... Bateria.



Tecnicamente falando, pra que todos possam entender como funciona uma bateria, vou explicar. Aliás, por motivos de falta de técnica (também sou leigo, podem acreditar), eu não vou explicar nada. “A Mangueira é tão grande, que nem cabe explicação...”. Então, eu só quero ouvir a batida única da bateria da minha Mangueira. Única porque é única mesmo, porque toda bateria, tem um lance de surdo (aquele tamborzão) de primeira, e de segunda, e de terceira. Tipo assim, você ouve um “prum...bum...escribum” não é??? Pois é, o “prum” é o surdo de primeira, o “bum” é o de segunda (que responde o anterior) e o “escribum” é o de terceira (que responde os outros dois). Entenderam?
É, também não entendi direito, mas saquei mais ou menos isso aí. Então, a bateria da Mangueira, não tem o surdo de segunda nem o de terceira, então fica só marcando no “prum”. Prum...prum...prum.... E nenhuma outra bateria faz isso, por isso ela é chamada de “Surdo Um”! Aí os caras inventaram uma parada muito legal, que é tipo o grito de guerra deles, que usa uma gíria bem carioca, o “mané” (que não é ofensa a ninguém), e aí gritam “É surdo um, mane! É surdo um"!
E o resto vocês já sabem. É só escutar, deixar o "prum" entrar pelo ouvido e explodir nos quadris e no pé.
Entendeu, “mané”?

"É SURDO UM, MANÉ! É SURDO UM”!


“Todo mundo te conhece ao longe, pelo som de teus tamborins, e o rufar do seu tambor...”
(Enéas Brites da Silva e Aloisio Augusto da Costa)

(Pesquisa de Texto com a colaboração de Thiago Pereira, cavaquinista, ritmista da Estação Primeira de Mangueira!)